Ao escurecer do dia seguinte, o preso foi conduzido do governo civil do porto para a relação com um mandado do carcereiro na baioneta do sargento. Quando saía do governo civil, já Libânia e o munes, que se antecipara a procurá-la em Ramalde, o esperavam. A Libânia era uma forte mulher para os trabalhos da vida. Fitou-o com um rosto aceso de coragem, um sorriso afoito, e disse-lhe muito animosa:
- Alma até almeida e de almeida para diante alma sempre!
Veríssimo ocupou o quarto de malta n° 2, com uma rasgada janela sobre o douro, um quarto cheio de luz e de sol, de onde tinha saído o gravito para a forca - elucidou o carcereiro, e mostrou-lhe no grosso alisar da porta as iniciais de alguns padecentes com a data de 1829.
A Libânia e mais o Torcato pernoitaram na estalagem do cantinho, na rua do loureiro, e passavam o mais do tempo na relação. Ao fim de seis dias já o munes requeria a soltura do preso, por falta de nota da culpa; mas a pronúncia chegou ao oitavo dia, da comarca da póvoa. O preso agravou para a relação. Era juiz-relator do agravo o conselheiro Fortunato leite, natural do douro, que, quinze anos antes, no reinado de D. Miguel, tinha sido amigo de Norberto Borges, e lhe devera a fineza rara de o avisar na véspera do dia em que lhe havia de cercar a casa por ordem do facinoroso corregedor de vila real, o albano, que os liberais mataram, no meio de uma escolta, em 1836. Quando o relator folheava o processo, os apelidos do preso, a naturalidade, os pormenores, sugeriram-lhe memórias da sua perseguição em 1831, e o salvar-se tão extraordinariamente pela amizade do meirinho-geral. Informou-se e evidenciou que o Norberto Horges, de Alvações do corgo, era pai do preso. Estava pois salvo o filho do seu benfeitor, sem