A marta escondia-se a chorar; e, às vezes, lembrava-se do fim da mãe - o suicídio; e punha-se a olhar para o ave e a escutar o rugido cavo de uma levada que parecia trazer-lhe os gemidos agonizantes de muitos afogados.
O dias falava-lhe na sua doença, no desfalecimento de forças, que já o não deixavam caçar, da tristeza que o consumia, do desamor com que a família o via padecer, do ódio que começava a ter à mãe, e idas saudades dilacerantes que sentia pela sua querida marta. - que o seu amigo padre Osório trabalhava para obter o consentimento do pai; mas que, se o não obtivesse, estava resolvido a fugir com ela, mesmo sem recursos, ou com os poucos que o seu amigo lhe podia emprestar.
De tempo a tempo ia vê-la de dia; mas a mãe trazia-o muito espreitado, e ralava-o: - que a tal croia havia de dar cabo dele. O cirurgião tinha-lhe dito delicadamente que o José abusava do 6°. Ela, como sabia os manda. Mentos de cor e salteados, entendeu logo, e dizia a toda a gente que o seu zé andava assim uni pilharengo por causa do 6°. Era o resultado de saber a doutrina cristã esta decência no explicar-se por números. As vizinhas entendiam-na e diziam-lhe que o José andava forgado, que lhe metesse uma enxada nas unhas e o pusesse a roçar mato oito dias, que ele perdia o cio.
Decorreram alguns meses. Com a primavera a saúde de José dias pareceu restaurar-se. Ele atribuiu as suas melhoras ao contentamento. O pai, que era regedor, a pedido do governador civil, que o mandou chamar a braga, por intervenção do padre Osório, dava o consentimento; mas a mãe recalcitrava. Esperava-se, porém, a vinda dos missionários a Requião, para a reduzirem ao dever de católica. O vigário de Caldelas já tinha prevenido um egresso do varatojo, frei João de Borba da montanha, das terras de Celorico de basto, de uma força prodigiosa em empresas mais difíceis.