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Capítulo 15: CAPÍTULO XIV

Página 134
Com a economia e o trabalho bem propiciado em trinta anos arredondara trezentos contos. Chegara aos quarenta e sete, ao outono da vida, sem ter amado. Nunca se conspurcara nos latíbulos da vénus vagabunda. A sua virgindade era admirada e notória; depunham a favor dela os seus caixeiros, os feitores, e - o que mais é - as suas escravas. Os seus patrícios devassos chamavam-lhe o Feliciano pudicícia. Ele não se envergonhava de confessar a sua castidade ao pároco de Caldelas. Tinha vivido como um dessexuado; - que trabalhava muito nos seus armazéns, que dormia poucas horas, e não dava folga ao corpo nem pega aos vícios. Originalíssimo. Que lhe saíram casamentos ricos; mas que ele para ser rico não tinha precisão de mulher; que vira algumas meninas pobres a namorá-lo; mas que desconfiara que lhe namorassem o seu dinheiro. Não tinha queda para o sexo, que ele dizia seixo. Numa palavra, estava virgem. Ele podia dizer como Hamlet. Não me deleitam os homens nem tão-pouco as mulheres.

A sobrinha reformara aquela natureza aleijada. Talvez o desdém com que marta o tratava na crise da sua paixão, fosse grande parte no amor do brasileiro. Além disto, a rapariga, muito parecida com ele na delgadeza das formas, tinha encantos que dispensavam a esquivança para se fazer amar de um homem de quarenta e sete anos - intacto ainda. O presente que lhe fez de uma meada de cordões de ouro significava uma desordem, pelo menos interina, na sua condição sovina. Marta aceitou a dádiva sem entusiasmo nem alegria. Lembrava-se que o pai a prevenira da possibilidade de ser mulher do seu tio, se adregasse gostar dela. Quando o tio lhe deu os cordões, teve-lhe uma náusea, um quase-ódio, suspeitando-lhe os projetos; e quando ele fugiu para o porto, com medo às guerrilhas, sentiu ela uma satisfação incomparável.

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pág. 134 (Capítulo 15)

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Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 134

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196