O melro, como o porco-montês e o lobo-cerval, embrenhara-se por pinhais e carvalheiras; às vezes, parava a orientar-se pelo cucuritar dos galos tresnoitados e latir dos cães. Ao fundo das bouças ladeirentas, rugia o rio pele nos açudes das azenhas e nas guardas dos pontilhões. Lamelas era da parte de além. Mas o rio, de monte a monte, rugia intransitável nas pequenas pontes. Foi à de landim, uma aldeia engravatada, onde ainda se avistavam clarões de luz nas vidraças das famílias distintas que jogavam a bisca em ricos saraus do Faubourg Saint-Honoré, com uns deboches sardanapalescos de sueca a feijões.
Havia também um rumorejo de vozes que altercavam na taverna do chasco. Tinia dinheiro lá dentro. Jogava-se o monte.
O melro pensou ouvir proferir o nome do Zeferino. Abeirou-se, pé ante pé, do postigo da taverna, e convenceu-se de que estava ali o pedreiro. Era ele quem reclamava um quartinho que pusera de porta, e o banqueiro recolhera com as paradas que estavam dentro, quando tirou a contrária de cara.
Que não admitia ladroeiras!
E o banqueiro desfeiteado observava-lhe que nada de chalaças a respeito de ladroeiras; que todos os que estavam daquela porta para dentro eram cavalheiros. O Zeferino replicava que não queria saber de cavalheiros; que queria o seu quartinho ou que se acabava ali o mundo. Que quem queria roubar que fosse para a terra negra.
A alusão era muito certeira e inconveniente. Estavam na roda dos cavalheiros alguns veteranos da antiga quadrilha do faísca, na terra negra, muito desfalcada pelo degredo e pela força. Travou-se a luta a soco e pau; havia lampejos de navalhas que davam estalos nas molas; o Tagarro de monte Córdova tinha feito afocinhar o banqueiro sobre os dois galhos do baralho com um murro hercúleo, fenomenal.