O taverneiro abriu a porta para escoar o turbilhão. Eles saíram de roldão; e, quando entestaram com a treva exterior, mantiveram-se cegos como num antro de caverna. Um, porém, dos que estavam, não saiu; encostara-se ao mostrador com as mãos no baixo ventre, gritando que o mataram; e, vergando sobre os joelhos, num escabujar angustioso, caiu de bruços, quando o taverneiro e o Tagarro o seguravam pelos sovacos. Era o Zeferino.
Quando, à meia-noite, o alma negra entrava em casa pela porta do quintal, encontrou a mulher ainda de joelhos diante da estampa do bom jesus do monte. Ao lado dela estavam duas filhas a rezar também, a tiritar, embrulhadas numa manta esburacada, aquecendo as mãos com o bafo.
O melro mandou deitar as filhas, e foi à loja contar à mulher, lívida e trémula, como o Zeferino morreu sem ele pôr para isso prego nem estopa. Ela pôs as mãos com transporte e disse que fora milagre do bom jesus; que estivera três horas de joelhos diante da sua divina imagem. O marido objetava contra o milagre - que o compadre não lhe dava a casa, visto que não fora ele quem vindimara o Zeferino; e a mulher - que levasse o demo a casa; que eles tinham vivido até então na choupana alugada e que o bom jesus os havia de ajudar.
Ao outro dia, o Joaquim melro convenceu-se do milagre, quando o compadre, depois de lhe ouvir contar a morte do pedreiro, lhe disse:
- Enfim, você ganha a casa, compadre, porque matava Zeferino, se os outros não matam ele, hem?