Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 19: CAPÍTULO XVIII

Página 174
Tinha sido furriel no exército realista, e ordenara-se para herdar uns bens de uma parenta beata que tinha horror à tropa. Lera as novelas do Prévost e madama de genlis, quando era furriel. Ficou-lhe dessas leituras uma linguagem amelaçada, com interjeições trágicas, e um jeito especial de tocar as mães com imagens ternas tiradas das coisas infantis. Por exemplo: e o teu filhinho, mulher, o filhinho que deus te levou para a companhia dos anhos, quando lá do céu te vê pecar, estende para ti os seus bracinhos, e diz: mãe, ó mãe! Não peques; mãe, não peques! Pelas lágrimas que por mim choraste, não caias na tentação, porque, se te perdes, se te afundas no abismo eterno, não tornarás a ver o teu filhinho que te chama do céu, mãe, ó mãe! E infantilizava o timbre da voz, inclinava a um lado a cabeça num langor menineiro, estendia os braços do púlpito abaixo com as mãos abertas, alongava os beiços no jeito da boquinha de criança, e muito mavioso, num trémulo de voz e braços: mãe! Ó mãe! E todas as que tinham perdido filhinhos desatavam num berreiro.

O padre silvestre da azenha, homem antigo, de uma porcaria de sotaina digna dos hagiológios, boa pessoa, incapaz de mentir voluntariamente, era forte na topografia do inferno e nas genealogias, usos e costumes dos diversos diabos. Afirmava que a legião deles se dividia cm esquadras, capitaneadas por lúcifer, príncipe da luxúria, por Asmodeu, satanás, belzebu e outros, cada um com a pasta ministerial dos seus competentes vícios. Dava notícia de um caudilho de esquadra, chamado Beemote, cujo empenho era bestializar os fiéis - verdadeira superfluidade. - leviatã capitaneava o esquadrão da soberba; e o ministro e secretário de estado encarregado da pasta da avareza chamava-se mamona. A ciência moderna matou este diabo, extraiu-lhe o óleo, e pô-lo ao serviço dos intestinos dos pecadores - óleo de mamona.

<< Página Anterior

pág. 174 (Capítulo 19)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 174

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196