Tinha sido furriel no exército realista, e ordenara-se para herdar uns bens de uma parenta beata que tinha horror à tropa. Lera as novelas do Prévost e madama de genlis, quando era furriel. Ficou-lhe dessas leituras uma linguagem amelaçada, com interjeições trágicas, e um jeito especial de tocar as mães com imagens ternas tiradas das coisas infantis. Por exemplo: e o teu filhinho, mulher, o filhinho que deus te levou para a companhia dos anhos, quando lá do céu te vê pecar, estende para ti os seus bracinhos, e diz: mãe, ó mãe! Não peques; mãe, não peques! Pelas lágrimas que por mim choraste, não caias na tentação, porque, se te perdes, se te afundas no abismo eterno, não tornarás a ver o teu filhinho que te chama do céu, mãe, ó mãe! E infantilizava o timbre da voz, inclinava a um lado a cabeça num langor menineiro, estendia os braços do púlpito abaixo com as mãos abertas, alongava os beiços no jeito da boquinha de criança, e muito mavioso, num trémulo de voz e braços: mãe! Ó mãe! E todas as que tinham perdido filhinhos desatavam num berreiro.
O padre silvestre da azenha, homem antigo, de uma porcaria de sotaina digna dos hagiológios, boa pessoa, incapaz de mentir voluntariamente, era forte na topografia do inferno e nas genealogias, usos e costumes dos diversos diabos. Afirmava que a legião deles se dividia cm esquadras, capitaneadas por lúcifer, príncipe da luxúria, por Asmodeu, satanás, belzebu e outros, cada um com a pasta ministerial dos seus competentes vícios. Dava notícia de um caudilho de esquadra, chamado Beemote, cujo empenho era bestializar os fiéis - verdadeira superfluidade. - leviatã capitaneava o esquadrão da soberba; e o ministro e secretário de estado encarregado da pasta da avareza chamava-se mamona. A ciência moderna matou este diabo, extraiu-lhe o óleo, e pô-lo ao serviço dos intestinos dos pecadores - óleo de mamona.