O padre Osório entrevia prelúdios de loucura nas alegres disposições com que marta, num recolhimento contemplativo, desde o apontar da aurora, esperava à porta da igreja que chegassem os missionários com o cortejo das mulheres encapuchadas, muito ramelosas, estralejando os seus tamancos ferrados na grade do adro que vedava a passagem aos porcos.
Enquanto na igreja, depois da missão, se depunha a hóstia nas línguas saburrentas e gretadas das beatas - que engoliam aquela farinha triga como quem devora sevamente um deus - cá fora armavam-se no adro dois tabuleiros, assentes em tripeças de engonços, com os seus pavilhões de guarda-sóis de paninho azul. Algumas mulheres de aspetos repelentes, sujas da poeira das jornadas, com os canelos calosos e encodeados, expunham nos tabuleiros as suas mercadorias, e ao mesmo tempo injuriavam-se reciprocamente por velhas rixas invejosas à conta de subornarem freguesas com caramunhas e palavreados. No silêncio do templo, ouvia-se cá de fora: - arre, bêbeda! - cala-te aí, calhamaço!
A exposição bibliográfica, feita nos tabuleiros, além das obras em brochura e encadernadas dos missionários, constava da regra de S. Bento, da missão aumentada, da missão abreviada, das piedosas meditações, das horas do cristão, do mês de maria, do mês de jesus e do livro de santa bárbara. Havia também novenas, via-sacras com estampas de um horror sacrílego, uns cristos que pareciam manipansos do bié. Seguia-se a camada dos escapulários; uns eram de n. S. Do Carmo, de n. S. Das dores, da conceição; outros do preciosíssimo sangue de jesus, do coração do mesmo, da santíssima trindade e de S. Francisco. Tinham grande saída os cordões do mesmo santo, e as correias de S. Agostinho, com um botão de osso, a apertar na cintura