Aqueles dizeres, alinhavados pelo varatojano, são extratos e imitações das escandecências eróticas do poema dramático da Sulamita no “cântico dos cânticos” - os trechos mais liricamente sensuais da antiguidade hebraica. Eles deram o tom de todas as exaltações nevróticas, desde os êxtases histéricos de teresa de jesus até às alucinações da beata maria alacoque e da portuguesa madre maria do céu, a cantora dos passarinhos de vilar de frades. Desta peçonha doce, elanguescente, vibrátil e enervante, cheia de meiguices epidérmicas de um corpo nu em frouxéis de arminhos, é que se fizeram uns manuais modernos em frança por onde as adolescentes começam a conversar com jesus e a compreendê-lo em linhas corretas, sob plásticas macias, a esperá-lo, a desejá-lo, como lho figuram com todas as pulsações, redondezas e flexibilidades da carne.
Marta, entre o deus incompreensível e o cristo-homem, via um ser tangível, o seu único termo de comparação - o José dias, esposo da sua alma e dominador dos seus nervos reacendidos e abraseados pela saudade. Nas apóstrofes a jesus, palpitavam-lhe nítidas as curvas do amante que a ouvia de entre as nuvens, numa clareira azul, com a sua lividez marmórea e os anéis dos cabelos louros esparsos como nas cabeças dos querubins. Tinha aquele namoro no céu quando abria a página do livro com que o confessor lhe dissera que havia de exorcizar as tentações voluptuosas da sua alma e do seu corpo.