Seria bom que a vossa reverência, antes de pôr à prova os exorcismos, ouvisse a opinião dos médicos.
- Eu sei o que dizem os médicos - e sorria com menosprezo da pobre medicina. - eu, aqui onde me vê, com os exorcismos, com este remédio que não inventei, mas que a igreja do nosso senhor jesus cristo me deixou, e que ele mesmo, o divino mestre usou, como o Sr. Padre Osório deve ter lido nos seus evangelhos... Ou nega a autoridade dos evangelhos? Nega que jesus cristo expulsava demónios?
- Não senhor, eu sei a história da legião que se meteu nos porcos...
- E outras; os livros sagrados estão cheios desses factos a que o padre Osório chama histórias; não são histórias, são factos.
- Ah! Sr. Frei João! Jesus cristo, a sua vida e os seus milagres não são história? Não pertencem à história? Mau é isso então!
A polémica prolongou-se um tanto azeda; Osório escandalizava os pios ouvidos do egresso que, pondo as mãos no peito e os olhos no céu, exclamava com S. Paulo que era necessário que houvesse escândalos. Interrompera-os o brasileiro, dizendo que a sua sobrinha estava com um ataque e que lhe dera no jardim. Frei João entrou na alcova para onde a tinham levado em braços, e o padre Osório ficou ouvindo a revelação da governanta, que lhe dizia:
- A desgraçadinha está de todo varrida! Eu estava no tanque a passar uns lenços por água quando ela entrou no pomar sem fazer caso de mim, como se ali não estivesse viva alma. Então depois, pôs-se a cortar rosas e a dizer que eram para o seu amado José Alves, para o seu esposo José Alves. Vossa senhoria não me dirá quem diacho, deus me perdoe, é este José Alves?
- E depois?
- Depois, sentou-se debaixo da ramada, esteve a chorar com o ramo das rosas muito chegado à cara e daí a pouco caiu para o lado a dar aos braços e a espernear.