O amor, como um vinho indigesto, dava-lhe a coragem interina dos bêbedos, e berrava:
- Se é homem, venha para cá! Você manda-me sair daqui, seu pedaço-de-asno? E o estudante, já amarelo:
- Eu não o mando sair daí, nem lhe consinto que me chame asno. Olhe que eu largo a espingarda, tiro-lhe das unhas o machado e dou-lhe com ele.
- Ó alma do diabo! - exclamou o pedreiro crescendo para o caçador.
Nisto, um dos cães, atravessado de cão de gado e cadela coelheira, que aprendera a morder nas ocasiões razoáveis, atirou-se-lhe ao assento das calças de estopa e puxou até lhe descobrir a epiderme da nádega esquerda.
O pedreiro floreava debalde o machado; os golpes cortavam o ar, e nem de leve apanhavam o cão, que dava pulos de esconso, atacando-o pela nádega direita. A restante matilha fraternizara com o outro e juntavam os focinhos num complexo de dentuças minacíssimas com os olhos sanguíneos cravados nos movimentos do machado. José dias, no entanto, espancava a cainçada, e marta não sabia se havia de descer para ajudar o pai a acomodar a bulha, ou se havia de cair na varanda a rir-se. Ela sentia-se envergonhada do espetáculo que exibia a calça esfarrapada; mas não havia pudor que resistisse àquilo. O pedreiro sabia que o cão lhe chegara um pouco à calça; mas, no calor da luta, não sentira esfriar-se-lhe a pele descoberta, nem se lembrou que andava sem ceroulas. Depois, como sentisse uma frescura extraordinária na cútis, exposta ao contacto da atmosfera, levou a mão conscienciosamente ao sítio, e achou em si aquele espécime obsoleto do adão primitivamente inocente. No entanto, marta, não podendo já consigo, entalada de riso, fugira da varanda e atirara-se de bruços sobre a cama, a rebolar-se, a espernear como se tivesse uma cólica.