começava: e tu, demónio maldito, com que autoridade intentas possuir jamais meu corpo ou molestar-me por modo algum? Marta rejeitou o livro, e disse que não podia ler nem estar de joelhos; que tinha vágados e que se queria ir deitar. Mas o exorcista, severo e formidável no seu ministério - que não, que não se ia deitar, que não lhe fugia, que se pusesse de joelhos aos seus pés! Ele então, segundo a rubrica do livro diretor, sentou-se, cobriu-se, voz grave e horrível, virado contra o demónio, como juiz para tal réu já convencido, aspergiu a possessa de água benta, ululando:
asperge me, domine... E recomendou aos circunstantes que apagassem duas velas, e não dessem palavra. Profundo silêncio. Ouvia-se apenas o zumbido das moscas que se esvoaçavam do teto atraídas pelo calor da luz única, e pousavam na cara chagada do cristo. O recinto era espaçoso e quase em trevas. A vela, encoberta pelas curvas laterais do oratório, não iluminava senão o curto espaço da projeção em que marta, retraída num terror, tinha os dedos das mãos postas, chegadas aos lábios, como se quisesse abafar os suspiros.
Passados minutos, o exorcista começou a conjurar e ligar o demónio em nome do padre e do filho e do espírito santo, tratando-o de imundo, afrontando-o bravamente com epítetos que deviam ofender o mais desbragado patife. Marta fez um movimento de aflitivo desabrimento; parecia querer fugir; mas o padre prendeu-a com a estola, em harmonia com o brognolo: se não estiver quieta, pode-a prender com uma estola. Feitas novas e mais terríveis conjurações, o exorcista levantou-se com pavorosa solenidade, e exclamou: exurge, christe! Adjuva-nos! Levanta-te, cristo, e auxilia-nos!
O egresso continuava as evocações ao cristo, quando marta caiu sem acordo.