Depois, o ave espraiava-se em murmúrios de lago dormente, muito barrento, e deixava-se apegar. O alferes, com a água pela cinta, desatascou-se dos lamaçais de além; e, horas depois, repassando o ave na ponte da lagoncinha, e, vencidas duas léguas de chafurdeiros e barrocas, entrava na sua casa das lamelas, bebia um grande trago de genebra, e, floreando a espada, bradava: “viva o Sr. D. Miguel II”
Depois, sobreveio-lhe um reumatismo articular, e ficou tolhido.
Sete anos passados, quando todas as aldeias do Minho conclamavam D. Miguel, ele ainda vivia, mas entrevado num carrinho, e chorava, em impotentes arquejos do corpo paralítico, porque não podia amolar a lâmina da espada nos ossos dos malhados.
Tinha-a diante dos olhos pendurada numa escápula com o boldrié e a banda. As vezes, depois de beber, punha-se a olhar para ela com os olhos envidraçados de lágrimas, e pedia que a metessem na sua sepultura, que o enterrassem com ela. E enterraram. Espera-se que o esqueleto deste legitimista, com as falanges esburgadas e recurvas no punho azevrado da espada, ressuscite, ao ulular da trombeta, na ressurreição geral das legitimidades. Ponto é que a Rússia se mova - como dizia o frade de barrimau.