Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 5: CAPÍTULO IV

Página 41

Estava Honorata nos trinta e três anos, quando silveira a encontrou nos pombais. O delegado era um romântico. Emigrara em 28, sendo estudante, quando alguns membros da sociedade dos divodignos padeceram o suplício da forca pelo homicídio dos lentes. Completara a formatura em 38 e fora despachado. Muito lido em Schiller e Arlincourt. Fazia solaus em que havia abencerragens e infantas cristãs apaixonadas que tocavam arrabis, banhadas de lua nos revelins dos castelos roqueiros. Também fazia prosa na gazeta literária do porto - cenas dramáticas em que se jurava pela gorja e havia homens de prol que arrastavam mantos negros, cravavam lâminas de toledo às portas de D. Fuas, e, cruzando os braços, rugiam cavernosamente: “Ah! Dom ribaldo! Dom ribaldo!” e depois, os arrepios de uma casquinada seca, de um estridente grasnido de gaivotas que se espicaçam por sobre o mar banzeiro.

A Honorata, esposa deplorativa, dama da rainha, esbeltamente magra, de uma elegância de raça afinada nos salões da bemposta, palidez ebúrnea, esmaecida, airs évaporés, um sorriso nobre de ironia rebelde à desgraça, com a dupla poesia do martírio e da beleza, ultrapassou a encarnação viva dos ideais do bacharel. Ela tinha pejo de lhe contar os seus infortúnios, a vida crapulosa do marido, a libertinagem de portas adentro com as jornaleiras, e o abandono da educação dos filhos. Andresa é que contava tudo ao mano Adolfo na presença da mártir, que o Cerveira se embriagava todas as tardes e tinha amásias da última gentalha que punham e dispunham em casa. Que os meninos eram criados brutamente; que o mais velho, o Heitor, nem ler sabia; porque o pai também fazia mal o seu nome. Que tiveram um padre de dentro para os ensinar, mas que o padre, em vez de lhes dar lição, trabalhava de carpinteiro em remendar os sobrados, e quando era a hora do estudo largava a enxó e vinha em mangas de camisa, sem gravata e de socos para a sala.

<< Página Anterior

pág. 41 (Capítulo 5)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 41

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196