Andresa:
- Ideias não me faltam; mas esqueci aquilo que se chama... Sim, aquilo com que se escreve, quero dizer...
- Ortografia?
- E como diz, :padre rocha, ortografia.
Era o exórdio para lhe dar parte que o seu amigo e rei D. Miguel estava no concelho da póvoa de Lanhoso; que lhe queria escrever; mas que não se metia nisso; e acrescentava: - ele, o rei, aqui há treze anos sabia tanta ortografia como eu; mas agora dizem as gazetas que ele estudou coisas e loisas e tal. Pedia, portanto, ao padre rocha que lhe escrevesse a carta para ele a copiar do seu vagar. E, pondo-lhe a mão no ombro: - e ouviu, padre? Vá pensando no que quer; uma boa abadia, santiago de antas, hem? Serve-lhe? Ou antes quereria ser cónego? Enfim, pense lá... Nós cá estamos às ordens.
O padre era a fina flor do clero realista. Sensato, inteligente e honesto. Primeiro, quando o Cerveira lhe revelou a meia voz a chegada do seu amigo e rei D. Miguel, imaginou-o no seu estado normal de bebedeira. Depois, reparando mais nas atitudes firmes e desempeno da língua, julgou-o sandeu, amolecimento cerebral pela alcoolização; por fim convenceu-se de que o pobre homem era enganado e escarnecido por alguns desfrutadores. O padre tinha muita compaixão do fidalgo, que a mulher e as filhas enlameavam torpemente. Ele avisara D. Andresa que, no dia em que o Sr. Dr. Adolfo entrasse nos pombais pela porta principal, ele sairia pela porta travessa; e a fidalga levam tão a mal o proceder do irmão que pensava em fazer testamento para que os filhos dele e de Honorata lhe não herdassem as quintas. Sabia-se nesse tempo que o Dr. Adolfo da silveira era juiz de direito nos açores e tinha consigo uma formosa amante com três meninos.
A única ideia com que o Cerveira contribuiu para a redação da carta foi que escrevesse: - vossa majestade precisa de dinheiro, diga o que quer, que eu até onde chegarem as minhas posses está tudo às ordens de el-rei meu senhor.