Ia de niza de pano azul com botões amarelos, calça branca espipada com joelheiras pelos atritos do albardão. As pernas das calças chegavam apenas a meio cano das botas, que pelo tamanho dos pés dir-se-iam roubadas a um gigante.
O bezerra dobrou o joelho, inclinando o tronco à mão esquiva da sua majestade. Por detrás dele, o Zeferino ajoelhara batendo com ambas as rótulas no tabuado. O barão ia falar, quando o rei, reparando no outro, disse:
- Levante-se, homem. Isto aqui não é capela.
O pedreiro teimava, achava-se bem naquela postura que o dispensava de procurar outra.
- Sua majestade manda-o levantar - disse o visconde munes.
Ergueu-se, e num ímpeto silencioso ia entregar a carta ao da cadeira, quando o capelão - mor lhe observou que as cartas se entregavam ao secretário.
O barão expôs que não pudera resistir aos pedidos que aquele honrado legitimista lhe fizera para o acompanhar, porque não se atrevia a entrar sozinho à presença de el-rei, seu amo. Que era filho de um bravo alferes, o Gaspar das lamelas, que, em 1838, à frente de 300 homens, atacara a vila de santo urso, dando vivas a el-rei. Contou a façanha de atravessar o ave a nado em Janeiro, com a espada nos dentes, e que por causa disso entrevecera e nunca mais se levantou.
- Oh! - interjecionou compungidamente o monarca. - eu ignorava esse notável ataque... Estava em Roma, sem notícias... Digno homem o meu honrado e bravo... Como se chama o seu pai?
- Saberá vossa majestade que se chama Gaspar ferreira. E o rei:
- Visconde, escreva na lista.
O nunes sentou-se à mesa, pedindo vénia a sua majestade, que ditou:
- Gaspar ferreiro, reformado em coronel de infantaria, com vencimento desde 1838. Escreva à margem: batalha de santo tirso. - e voltando-se para Zeferino, que ladeava para a parede:
- Diga ao seu bravo pai que lhe dei a reforma em coronel, e vencerá soldo dos sete anos passados.