O Zeferino abriu a boca para dizer o que quer que fosse.
- A carta do meu velho amigo Teixeira? - perguntou o rei ao visconde nunes.
- Cerveira, perdoe vossa majestade, Cerveira lobo.
- Ah! Sim... Cerveira lobo.
Abriu, leu para si, passou a carta ao secretário, e comentando exultante:
- Um grande amigo! Dos raros! Um dos nossos melhores esteios! Com homens assim dedicados, o triunfo é certo. Posso dizer com o grande vate camões:
E dir-me-eis qual é mais excelente
Se ser do mundo rei, se de tal gente.
Um dos reitores que estavam na penumbra, lá em baixo ao pé das caixas, olhou com espanto para o outro, que lhe disse à puridade, discretamente:
- Diz que ele tem estudado o diabo.. Até o latim! El-rei prosseguiu:
- Vou responder pelo meu próprio punho ao meu nobre amigo. É digno desta e de maiores considerações. Visconde, escreva na lista: vasco da Cerveira lobo, general de cavalaria, e conde de quadros.
Depois, tirou de uma velha pasta de papelão uma folha de almaço, sentou-se a escrever - e que conversassem.
O abade, capelão-mor, aproveitou a aportunidade para servir vinho do douro e pastéis de Guimarães, cavacas do convento dos remédios e forminhas.
Havia mastigação de mandíbulas pesadas; as forminhas eram frescas, muito torriscadas, davam rangidos numa trincadeira voluptuosa. Conversava-se em dois grupos. O sargento-mor de rio caldo contava passagens de caça no Gerês, com enfáticos arremedos, movimentados, de altanaria. Que o porco-bravo viera direito a ele, e cortava mato, troncos de giestas como a sua coxa - e mostrava - ; tinha apanhado de raspão a cadela, a ligeira, raça de todos os diabos que o atacava pela orelha, e ficou aleijada para nunca mais; e ele então caíra sobre a esquerda, e trepara à fraga da portela, e esperara o porco na clareira; e mal ele apontou, pumba! Meteu-lhe três zagalotes no quadril.