- A gente a falar incomoda talvez el-rei - observou o barão de Bouro.
- Podem conversar à vontade, que não me incomodam.
- Aquilo é que é cabeça! - disse baixinho, tocado, um dos cónegos a outro cónego. Generalizou-se a cavaqueira. Faziam-se brindes lacónicos, circunspectos, com um grande respeito, indicando-se el-rei por um simples gesto de olhos. - a virar! A virar! - carminavam-se os cónegos. O dom prior de Guimarães sugeriu uma lembrança graciosa ao barão. Que havia dois padres marcos, ambos priores de Guimarães. Mas o legitimo, o de são Gens de calvos, dizia do outro:
- Forte bêbedo!
O visconde nunes ria-se sarcasticamente; e enquanto os padres. Num crescendo palavroso, explodiam sarcasmos ao outro padre marcos, o secretário privado curvou-se sobre o ombro de el - rei e segredou-lhe:
- Carrega-lhe!
- Ora....
- Quanto?
- 2.
- 3. Anda-me. 3 será muito!...
- Bolas. 3, pela minha conta. Coisa limpa.
E, em voz alta e voltado para o grupo:
- El-rei pergunta se o Sr. Conde de quadros tem família, se tem senhora e filhos. O bezerra perguntou ao Zeferino.
Que soubesse sua majestade, disse o pedreiro, mais animado, que o fidalgo de quadros tinha dois rapazes e três raparigas, uma já casada; mas que a fidalga, a mulher dele, aqui há anos atrás, tinha fugido com o doutor dos pombais, e nunca mais voltara.
- Desgraças! - disse o capelão-mor - desgraças! A corrupção dos tempos... Se se não acudir quanto antes a isto, não sei que volta se lhe há de dar.
Fez-se um silêncio condolente. Todos sentiam o caso infausto.
O rei continuava a escrever, devagar, polindo a frase, boleando os períodos; achava dificuldades em se medir com as locuções redondas e muito adjetivadas da retórica do padre rocha.