Ficou para cear o nunes. Ceava sempre com el-rei e com o abade.
O Zeferino, que tinha ali a égua e conhecia o caminho, não quis ir pernoitar a santa marta de Bouro. Havia luar e saía um rancho de romeiros para o bom jesus do monte. Partiu em direção a braga, e ao outro dia de tarde apeava no sonoro pátio da casa de quadros, por onde entrara com a égua em grande estropeada, com a cara escandecida numa congestão de júbilo.
O Cerveira estava a dormir a sesta.
- Apanhou-a hoje daquela casta! Como um cacho! - informou um caseiro. - mandou aparelhar a poldra castanha do Sr. Egas, com os coldres das pistolas, escanchou-se na sela, com a espada desembainhada e desatou a galope por debaixo das ramadas a dar gritos: “Avança”, “Dragões! Carrega”, “Esquadrão!” Eu estava a ver quando o levava a breca de encontro a um esteio de pedra, que malhava abaixo da burra como um dez!... Depois o Sr. Egas e mais o Sr. Heitor lá o apearam como puderam, e foram-no pôr a dormir, arre diabo! Lá que um homem uma vez por outra apanhe um pilão, vá; mas embebedar-se todos os dias, é muito feio! E depois ninguém se entende com ele. Medra com o suor dos pobres. Um fona. Que vá para o diabo que o carregue. Tanto se me dá como se me deu. Se me mandar embora, boas noites. Não é capaz de perdoar um alqueire de milho a um caseiro! Tem vinte mil cruzados de renda, não gasta nem cinco, andam os filhos a vender o mato e os pinheiros, uma vergonha, porque ele, a dois homens gastadores, que têm amigas, uma a cada canto, dá cada mês vinte pintos para os dois! O homem deve ter muita soma de peças enterradas! Qualquer dia cai-lhe aí em casa o José pequeno da lixa que lhe põe a faca ao peito até ele pôr ali o dinheiro à vista. Diz que quer comprar mais terras, e aqui há dias ofereceu seis contos pela quinta do Lopes de Requião.