Veja você. Tem seis contos ao canto da gaveta, e ainda não deu cinco réis, que são cinco réis, à filha, à D. Teresinha, que casou com o estudante das quintãs. Anda por lá de socas, sem meias, a fazer o serviço da cozinha. E estão aí as outras duas, que parecem umas fadistas, nas romarias, e, quando deus quer, topa a gente de noite por esses quinchosos esses marotos dos engenheiros e empreiteiros a saltarem paredes para se irem meter com elas na casa do palheiro. Uma vergonha, mestre Zeferino, a vergonha das vergonhas! Eu sou um pobre; mas raios me parta, que se eu tivesse assim umas filhas... Olhe... (batia com o pé em cheio na relva) esmagava-as como quem esborracha uma toupeira. Deus nos livre de bêbedos! Deus nos livre de bêbedos! Você bem sabe o que isso é, mestre Zeferino, que pelos modos lá por casa não tem pouco que aturar ao seu pai, que também as agarra muito profetas! Olhe você como ele se tolheu quando foi, dia de natal, dar fogo aos de santo tirso! Aquilo só com meio almude no bucho!
- Não é tanto assim atalhou o sargento-mor de lamelas. - não lhe digo que o meu pai não tivesse algum graeiro na asa; mas o que ele fez não era você capaz de o fazer, tio Manuel.
- Ah! Isso não, bem o pode dizer, mestre Zeferino. Nunca me emborrachei, aqui onde me vê com cinquenta anos já feitos; mas, se algum dia me emborrachar, que ninguém está livre disso, prego-me a dormir e não vou atirar-me ao ave em Dezembro; ágora vou, se deus quiser. Vai-se pôr o alma do diabo a dar vivas ao D. Miguel! Qual migue! Nem qual carapuça! Se D. Miguel cá vier há de fazer tanto caso do seu pai como eu daquela bosta que ali está. O que ele devia era tratar de conservar os terrões, e fazer como você, que se pôs a trabalhar e se fez pedreiro quando viu que os malhados lhe tomaram conta das terras.