Ao entardecer do dia 15 de maio de 1845, o padre luís de sousa escrevia a sua correspondência para londres. Anunciou-se o padre bernardo rocha, perguntando a hora menos ocupada para poder dar duas palavras ao reverendo dono da casa. Foi logo recebido. Que todas as horas eram livres para receber os amigos.
Padre rocha começou alegando que os seus sentimentos políticos eram bem conhecidos; que cumpria sempre as ordens que recebia do centro realista, e que facilmente daria o sossego da sua vida em sacrifício das suas convicções. Que se julgava com direito a fazer uma pergunta e a exigir que lhe respondessem a verdade.
- Se a pergunta for feita a mim, não poderei responder de outra maneira. Que quer saber, padre rocha?
- Se o Sr. D. Miguel está em Portugal.
- Não, senhor. Há 15 dias estava em Itália. - e abrindo uma gaveta, extraiu de uma pasta muito ordinária de carneira surriada com atilhos um papel que mostrou. - aqui está uma carta assinada pelo Sr. D. Miguel de bragança, datada no 1° de maio. Quanto a isto, está satisfeito. Que mais quer saber?
- Mais nada. Agora corre-me o dever de justificar a pergunta.
- Bem sei - preveniu o padre luís. - essa mesma pergunta me fez há dias o bezerra de barrimau, seu vizinho, e mais de um cavalheiro de braga, o barata, o Manuel de Magalhães, etc. Diz-se por lá que o Sr. D. Miguel está no alto Minho, no concelho da póvoa de Lanhoso. Propalam - no certos padres, não sei com que alcance. A estupidez tem intuitos impenetráveis. Não percebo para que fim espalham tão absurdo boato, se não é para alarmar o governo ou lograr incautos.
- É isso mesmo: lograr incautos - interrompeu o rocha, e contou o que se estava passando com o tenente-coronel de quadros, a carta do suposto D. Miguel e o empréstimo dos três contos, que o fidalgo tencionava levar no próximo sábado ao impostor.