Quando entravam pelo assado, chegou um tenente do 8 a contar a um amigo, que estava à mesa, que chegara naquele momento preso ao governo civil, vindo da póvoa de Lanhoso, um maroto que dizia ser D. Miguel, e ouvira dizer a um realista que o vira em Roma, havia três anos, que se parecia bastante com ele.
O Cerveira erguera-se num grande espanto indiscreto a olhar para o oficial, que o fixava com uma curiosidade irónica. Convergiram todos os olhares para o homem das barbas respeitáveis. Quedou-se momentos naquele espasmo, num trémulo, e perguntou:
- E é com efeito o Sr. D. Miguel esse homem que chegou preso?
- Ele diz que é - respondeu o tenente. - veremos o que se averigua no governo civil.
- Na falta do verdadeiro D. Sebastião, apareceram três falsos - disse enfaticamente. Um professor de latim, com um sorriso pedante.
O Cerveira olhou-o de esconso, e saiu da mesa, seguido do Zeferino, muito enfiados, ambos.
- Está tudo perdido! - disse dolentemente o fidalgo.
- El-rei preso!... E não se levanta este Minho a livrá-lo!... Vamos vê-lo, quero ver se lhe posso falar. Dentro de três dias entro em braga com dez mil homens e arraso a cadeia.
Fez saltar a copa do chapéu de molas e saiu para a rua, a bufar.
O campo de santa Ana parecia um arraial. Aglomeravam-se ali as duas bragas - a fiel, a caipira, pletórica de fidalgos, de grandes proprietários, cónegos, de chapeleiros e da clerezia miúda; - a liberal, muito anémica, encostada ao 8 de infantaria, toda de bacharéis e empregados públicos, o manso, o meio cavacão, o mota, o rocha veiga, o Alves Vicente, negociantes de tendas mesquinhas, professores muito retóricos, o capela, que ensinava francês, o pereira caldas, soneteiro e polígrafo, o velho abreu bibliotecário, lacrimoso, o pinheiro, muito grande, filósofo sensualista, mas bom vizinho, todos à volta do monte Alverne, um cónego muito assanhado, que foi, meses depois, comandante da brigada dos serezinos.