Cerveira lobo impunha e dominava com as suas barbas, o trajar asseado com muito lustro, e o bater metálico, patarata, das esporas. Abriram-lhe passagem, rodeavam-no cavalheiros da primeira plana, os Vasconcelos do tanque, os Magalhães, o freire barata, o cunha das travessas, a gema daquele enorme ovo realista, chocado no seio da religião da carlota Joaquina, do conde de basto e do teles Jordão. O Cerveira perguntava aos seus: - É? - uns encolhiam os ombros, outros negavam gesticulando. E ele, com intimativa:
- Pois saibam que é!
O Manuel de Magalhães dizia ao ouvido do Henrique Freire:
- Deixa-o falar, que está idiota.
O bernardo de barros, um fidalgo de basto que fora capitão de cavalaria, com um bizarro sorriso de corte e ademanes de uma seleção rara:
- Meu tenente-coronel, el-rei, quando vier, não há de estar ao alcance da canalha. Descanse vossência.
Os janotas acercavam-se, desfrutadores, do Cerveira. Eram o Russel, o António Gaspar, os de Infias, o bento Miguel de Maximinos, o Paiva brandão, o D. Manuel de prelada, o D. João da tapada, o António luís de Vilhena, um loiro, muito enamorado, com uma rosa-chá na lapela da casaca azul com botões amarelos.
Daí a pouco fez-se um torvelinho de povo à porta do governo civil. A soldadesca afastava a multidão com frases persuasivas de coronha de arma. Formou-se a escolta, e o preso saiu, de rosto levantado e afoito, rara a multidão. Cerveira lobo fitava-o com uma ansiedade aflitiva. - que se parecia... E ia jurar que era ele! - quando um realista convencionado e que estava no grupo, o major de vila verde, disse com um desdém de achincalhação:
- Olha quem ele é! Oh que traste! Que grande mariola! Forte malandro!
- Quem é? Quem é? - perguntavam todos.
- É o veríssimo, foi furriel da minha companhia, andou com o remexido, e safou-se de Messines com o pré dos guerrilhas.