Venha.
O clarão interior mostrou a Frazão e Torto o seu companheiro, que levava pelo braço o raptor de Ricardina. Exclamava Norberto:
- Rapazes, vinde cá! Aqui está o homem!
Os dois criados, pensando que Norberto lhes pedia socorro para o prenderem, entraram, de clavinas aperradas, dispostos a cumprir as secretas ordens do patrão; mas, apenas deram o primeiro passo dentro da capela. Norberto bateu o cão dos dois canos com o intervalo necessário para duas pontarias. O Torto caiu de borco, ao mesmo tempo que o cérebro lhe espirrava à face do outro, que se mantinha em pé cambaleando. Fez ainda fogo Frazão. Norberto expediu um rugido, e cresceu sobre o moribundo, cortando-lhe as veias jugulares a golpes de punhal.
- Foram-se! - disse Norberto, ligeiramente agitado.
- Estou ferido! - disse Bernardo.
- Aonde?
- Neste ombro direito.
- Não há de ser nada. Pode saltar o muro?
- Talvez possa.
- Se não puder, vai às minhas costas.
Atravessaram o vasto pátio. Os restantes salteadores tinham corrido a defender as saídas do outro lado. Ninguém os viu. Chegados à parede, Norberto perguntou a Bernardo:
- Sabe ir de aqui para casa da minha mãe?
- Sei.
- Vá de rastos, se for preciso, para que o não vejam. Vossa Senhoria está perdido, se o abade sabe que ficou vivo. A Sr.ª D. Ricardina há de sabê-lo, e mais ninguém. Fuja por esse mundo fora, senão a Justiça agarra-o. Olhe que eu tinha ordem de o matar, e vou dizer que o vi morto. Se o Sr. Doutor não estivesse ferido, ia já por a fora até Espanha; mas é preciso curar-se; e a Justiça vai dar com o senhor em casa do Diabo. Bata à porta da minha mãe, que há de estar a pé, e diga-lhe que o esconda, que eu amanhã, assim que puder, lá vou ver essa ferida.
Dobrou-se Norberto rente com a parede.