Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE

Página 101

- É Norberto! - disse Bernardo Moniz.

Era. Era ele, atabafando o lume pegado na jaqueta e esfriando com as mãos as longas barbas crestadas.

- A fidalga? - exclamou ele.

- Não está aqui - disse Bernardo.

- Está fora?

- Está.

- Que fazem os senhores? - disse o Calvo, sacudindo os braços freneticamente, e batendo com a coronha da clavina no tabuado. - Querem aqui morrer? Que diabo de defesa foi esta? Porque não saíram logo que pegou o fogo? Saiam, saiam, pelo amor de Deus ou do Diabo!

- É o que íamos fazer - disse o médico. - Vão abrir-se as portas, para não sairmos juntos; parece-te o melhor?

- Vá então, depressa; que por este lado já mal se pode sair.

- Temos outras portas.

- Então, repartam-se - clamou Norberto. - Sr. Bernardo, havemos de sair juntos, por este lado por onde eu vim.

- Mas tu vinhas a arder... - objetou o estudante.

- Vinha; mas não ardi. Cá me entendo. Logo lhe direi porque vamos por este lado. Vossa Senhoria atire dois saltos assim que passar pelo fogo. Havemos de sair pela porta da capela, que está a arder. É já!

Bernardo acompanhou-o, quase afogado de fumo, e sentindo estalar e gretar lume os degraus da escada. Passaram por um corredor estreito à tribuna da capela, que começava a esboroar-se pelo tabique divisório do restante edifício. A frágil porta, em que o artista alardeara engenho de lavores, sem olhar à robustez, tinha saltado em rachas, batida por uma espécie de catapulta que os inventivos Frazão e Torto arranjaram com o cabeçalho de um carro metido de pontoada à franzina madeira.

- É por ali! - disse Norberto, apontando a porta e levando consigo Bernardo.

- Estão lá dois homens.

- Bem sei... são os criados do abade.

- E eu não tenho arma.

- Nem é preciso.

<< Página Anterior

pág. 101 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 101

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177