Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO

Página 129
A conversa estendeu-se até horas de estudo, sem deslizar da gravidade do assunto. Os dois beirões falaram sempre. Alexandre, que não tinha casos concernentes ao intuito da palestra, escutava-os mais impaciente que distraído.

Assim que saíram, Alexandre disse a sua mãe:

- Tomara eu que estes rapazes me deixassem! Tiram-me o tempo sem me entreterem. Eles estudam como ricos, e eu devo estudar como pobre. Quando se formarem, lá têm as suas casas; e eu hei de ir buscar vida como quem não tem outros recursos.

- Deus te abençoe, meu filho! - disse Ricardina afagando-lhe os longos cabelos negros que lhe ondeavam, consoante a moda, sobre os ombros. - Estuda, estuda; mas não me adoeças. Ainda temos um conto e trezentos mil réis em dinheiro para a tua formatura. Depois, irás advogar, que é um bonito modo de vida, ou pedirás um emprego... Que te contaram os teus amigos? - perguntou a mãe, adoçando a voz com um sorriso.

- Coisas lá de uma menina, que deu a luva a um deles, e casou depois com um visconde. Ora veja, minha mãe, que histórias! Que me importa a mim que a Sr.ª D. Matilde desse as luvas, e casasse com um visconde velho?

D. Ricardina falsificou em sorriso a tristeza com que escutava seu filho, o primo daquela Matilde que não lhe importava.

- Mal sabes tu!... - dizia ela de si consigo. - E há de ir até fim da vida este anjo sem conhecer seus parentes!

Não há para que nos demoremos em particularidades no decorrer dos cinco anos do estudante em Coimbra. Uma tão-somente sobreveio a enlutar o coração abafado, sem respiráculo por onde saíssem lágrimas a pedir consolações do filho. Pensava Ricardina que a sua irmã Eugénia, se soubesse que ela vivia, lhe não poderia negar afeto de irmã. Pensava em diversos modos de fazer-lho saber; mas todos eles desfechavam na penosa necessidade de romper o segredo da sua vida passada.

<< Página Anterior

pág. 129 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 129

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177