Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 23: CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA

Página 142
- É verdade que eu voltei a face com um gesto de impaciência - pensava ela - , mas quantos aí há de ilustre sangue que teimam em receber os desagrados com rosto de mártires e pensam elevar-se com abjeções? E, se acontecesse aquele homem odiar-me ou desprezar-me? Pois um pobre que dá uma libra de esmola, e rejeita um lucrativo despacho por salvar a sua dignidade abocanhada, importa-lhe porventura que eu seja rica? Se ele me considerasse bela! Se eu o tivesse impressionado e ofendido com o desdém, quando ele olhava para mim, não é natural que reparasse em me ver constantemente na janela há quinze dias?!

E que pensava Alexandre Pimentel, vendo, se via, a viscondessa na janela? Umas vezes ia pensando nas leis dos Turdetanos escritas em verso, ou na distinção ainda incerta de procônsules e protutores. Outras vezes nos doze livros da Lex Wisigothorum, ou na coleção dos Cânones dos concílios. Alma regurgitada de sabenças tamanhas, apenas surgiria da sua modorra se a viscondessa caísse da janela à rua, ou desse dez-réis a cinco pobres. Aqui está. A indiferença do literato não mareava a incontestável beleza da fidalga. Era Afonso V de Ledo ou S. Martinho de Dume ou qualquer fantasma deste porte e tomo que o divertiam de pôr os olhos humildes no formoso osso dos cem cães.

A liberdade veste de asas a paixão e dá trela à ave daninha até onde ela se libra. A viscondessa perguntou ao Mesquita, condiscípulo do escritor, se lhe descobria a residência de Alexandre.

- Hoje, se vossa Excelência não quer que seja já.

- Quando puder.

Mesquita foi à Biblioteca e disse ao espanejador do pó dos in-fólios:

- Tenho um livro para te mandar.

- Que é?

- Não lhe sei o título. Trata das leis que trouxeram à Lusitânia uns vândalos chamados silingos.

<< Página Anterior

pág. 142 (Capítulo 23)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 142

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177