.. Note, minha mãe, que a viscondessa é o tal osso dos cem cães em que lhe falei, e a dadivosa mãe dos pobres, que se liberaliza em dois réis por cabeça. Apresso-me a dar-lhe esta notícia, porque tenho trabalho até às duas da manhã, e já
hoje nos não veremos. Peço-lhe que se deite e não me espere. Agora reparo que é esta a primeira carta que lhe escreve seu filho Alexandre.
D. Ricardina Pimentel leu em ânsias a carta do filho. Vestiu-se pobre e pressurosamente, fechou a porta, e pagou a um galego que lhe ensinasse a Rua de S. Francisco. Era ao entardecer. Entrou ao pátio. Surgiu à porta de um cubículo térreo o guarda-portão, que lhe disse mal encarado:
- A senhora que quer?
- Falar à Sr.ª Viscondessa.
- Está a jantar.
- Não importa. Vá dizer-lhe que está aqui a pessoa a quem ela hoje escreveu.
- Ah! - exclamou o criado com admirável transformação de laringe. - Faça favor de subir.
D. Ricardina ficou na sala de espera. Passados momentos, foi conduzida a outra sala onde dois criados acendiam as velas dos castiçais. A viscondessa entrou, rugindo com a longa cauda de seda.