O filho de Ricardina viu o nº 6, e recordou-se de ser ali a casa da fidalga que dera dez-réis para cinco pobres, e virara o rosto mal assombrado num certo dia. Na incerteza, porém, acercou-se do guarda-portão, que o recebera inclinado e de braços pendidos.
- Quem mora nesta casa? - perguntou.
- A Sr.ª Viscondessa da Gandarela.
- Como se chama esta senhora?
- A Sr.ª Viscondessa...
- Sim, como se chama?
- É a Sr.ª Viscondessa.
- O nome de batismo é que eu lhe pergunto.
- Ah!... parece-me que é D. Matilde.
Susteve-se enleado o interrogador, e prosseguiu:
- Donde é a Sr.ª Viscondessa?
- De ao pé de Viseu.
- Sabe dizer-me há quantos anos casou?
- Eu digo-lhe, Vossa Excelência... esta senhora está viúva há dois anos, e esteve casada não chegou a quatro anos.
Combinou as informações com a história relembrada pela sua mãe, e maravilhou-se da certeza casual com que ela conjeturara. Não o contentavam ainda as elucidações. Queria precisamente saber se daquela casa saíra a carta para sua mãe.
- Quem mora no segundo andar, faz favor de me dizer?
- É a Sr.ª Viscondessa. Tem o palacete todo, que era do Sr. Visconde que Deus haja.
- Não há aqui outra pessoa que se chame Matilde?
- Não, senhor.
- Obrigado - concluiu Alexandre, retirando-se.
Enquanto a fidalga interrogava o criado, obrigando-o a repetir as perguntas e respostas, o jornalista, obrigado aos trabalhos da redação, enviou desde o escritório uma carta a sua mãe, referindo-lhe o que passara com o criado da viscondessa da Gandarela. E concluía: A certeza de ter saído a carta daquela casa não a tenho, nem se me ofereceu bom propósito de me esclarecer. Afigura-se-me que me querem dar proporções heroicas de personagem de novela. Quem sabe se anda aqui zombaria de adversários políticos!.