Também o leitor se há de espantar, mas de outras maravilhas. O trintanário agaloado da viscondessa da Gandarela entrou no escritório, onde o jornalista compunha o artigo que o impressor ia levando a fragmentos para a oficina. Perguntou pelo Sr. Dr. Pimentel.
- Que quer? - perguntou Alexandre, sem ver a pessoa que o nomeara.
- Está ali fora a mãe da vossa Excelência, que o manda chamar.
Levantou-se de salto o jornalista, assustado da extraordinária saída da sua mãe a tal hora. Foi então que ele viu o lacaio.
- Quem acompanhou minha mãe? - perguntou ele saindo sem chapéu, e dando mínima atenção à natureza heráldica do portador.
Desceu precipitadamente ao pátio e viu as lanternas acesas de uma carruagem rente com a soleira da porta. Fixou a vista nos dois vultos mal iluminados e aproximou-se da portinhola, sem mais expressão que uns grandes olhos pasmados, e a mandíbula inferior um tanto descaída naquele jeito estúpido de assombro que é pensão dos mais atilados e imperturbáveis de ânimo.
- Desconheces tua mãe em carruagem tão rica? - perguntou D. Ricardina. - Estás de tal modo aturdido, filho, que nem cumprimentas esta senhora!
Alexandre abaixou a cabeça, e murmurou:
- Desculpe-me Vossa Excelência... Eu...
A viscondessa ofereceu-lhe a mão, e murmurou:
- Entre primos são perdoáveis esses descuidos.
Alexandre não a percebeu, nem aceitou o oferecimento da mão, nem viu coisa que lhe fosse bem percetível senão que a sua mãe estava naquela carruagem com a viúva da Rua de S. Francisco.
- Alexandre! - admoestou a mãe. - Tu não vês tua prima que te oferece a mão?!
- Minha prima?! - disse o escritor. - Vossa Excelência não é a Sr.ª Viscondessa de...
- Sou Matilde Pimentel, sobrinha de D. Ricardina Pimentel, e prima de Alexandre.