Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: CAPÍTULO III – REAÇÕES

Página 16
-, realista por interesses aligados à sua abadia, realista, enfim, por estupidez, não desfazendo nos espíritos que ainda luzem e abundam nas crenças políticas do abade de Espinho por ilustração.

D. Clementina Pimentel escutava-o por delicadeza e bocejava por não poder ser mais civil, quando o abade lhe prelecionava os horrores da liberdade, e ao propósito lhe lia um opúsculo de certo frade, seu amigo, tendente a provar que o general Gomes Freire de Andrade fora enforcado como devia ser para desagravo da justiça e moral .

As duas meninas tinham dispensa de ouvir a cristianíssima alegação jurídica do monge. Pelo ordinário, assim que tomavam o chá, recolhiam-se à sua alcova, onde esperavam o sono, que facilmente as favorecia aligeirando-lhes os aborrecimentos da solidão.

Naquela noite, porém, Eugénia, sobrexcitada por comoções de noiva, e Ricardina por saudades exacerbadas pela desesperança, não podiam adormecer. Uma chorava, a outra queria consolar; mas espremia fel em vez de linimento na chaga, quando dissuadia a irmã de amar Bernardo e lhe figurava as delícias de ir com ela para uma vida mais alegre, casada com o primo Carlos.

- Não me digas isso, que não sou tua amiga! - segredava-lhe Ricardina, receosa de ser escutada. - Quero ser freira, e morrer antes de faltar à minha palavra. Amar outro homem não me é possível. Hei de esquecer o Bernardo só quando morrer.

Eugénia replicava mais brandamente, e assim de argumento em argumento se lhe foi esmorecendo a viveza da contenda, até que enfim, às três da manhã, adormeceu.

Levantou-se então subtilmente Ricardina, subtraiu de entre os colchões um tinteiro de osso, desarrolhou-o muito acautelada para não ranger, ajoelhou-se à beira de um baú, e escreveu até às cinco horas a história por miúdos do funesto dia passado.

<< Página Anterior

pág. 16 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 16

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177