.. Quer ver?
E levou-lhe o retrato, inclinando-se a mostrar-lho à mais conveniente luz.
Ricardina levantou-se de golpe, e despediu um grito estrídulo.
- Que é? - exclamaram os dois.
- Meus Deus! - bradou Ricardina. - Este retrato... é o meu... é o retrato que o teu pai me tirou em Coimbra! É o que ele levou, quando se despediu de mim para sempre... Onde achaste, meu filho, onde estava este retrato?
Alexandre mantinha-se estupefacto a olhar para a mãe. Não respondia, não pestanejava. Parara-lhe a vida.
- Que tens, Alexandre? - acudiu a viscondessa. Que tens, meu filho? Estás a perder a cor!... Pois como te veio à mão este retrato?... Achaste-o a vender, ou como foi?
A última pergunta de Matilde foi luz e ordem no caos das suas ideias. Deteve instantes a resposta e disse:
- Comprei-o.
Quando proferiu a palavra, o seu íntimo pensamento era pensar no modo de salvar a mãe, dando-lhe esperanças de estar vivo Bernardo Moniz, esperanças que podiam ser falsas, e talvez fulminá-la de alegria sendo verdadeiras.
- Está bem certa que esse retrato é seu, minha mãe? - instou ele.
- Certíssima, filho! Pois poderia eu enganar-me tendo-o tido tantas vezes na minha mão?... Como viria este retrato parar a Lisboa? Foi por força tirado do pescoço do teu pai por algum dos matadores.
- Vou indagar isso, minha mãe; dá-me o retrato, Matilde.
- Não dou. Compra-o por tudo quanto quiseres.
- Compro, filha; mas é necessário que eu o leve.
- Olha lá... se o não trazes, fico triste!
Pouco depois, Alexandre entrava no quarto de Bernardo Moniz. Estava Norberto ministrando-lhe a tisana quinada. O filho de Ricardina encarou o doente com os olhos revendo lágrimas. Bernardo notou os sinais compadecidos daquele olhar, e disse:
- Vejo que o retrato motivou a piedade das senhoras, na qual Vossa Excelência tomou parte.