Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO

Página 2
Lisonjeava-o entrar com as filhas na casa de onde fugira a mãe, quinze anos antes. Os Pimenteis receberam agastados a proposta, enviada por medianeiro hábil. Depois discutiram menos irritados. Por fim, pediram prazo para refletir. Os dotes prometidos eram trinta mil cruzados para cada menina.

Os noivos acederam, tirando a partido que a mãe das nubentes se recolheria em mosteiro, antes das núpcias das filhas. O abade replicou, observando ao comissário da cláusula que D. Clementina, se houvesse de ser Madalena certo não se guardaria para tão fora de horas, nem a justiça de Deus levaria em grande conta um arrependimento aos 40 anos. Em suma, rematou o espírito forte do padre Leonardo Botelho dando por terminadas as notas diplomáticas.

Voltaram os Pimenteis a refletir. Acharam-se subitamente filósofos. “Filósofos” vinha a ser “tolerantes”, quando não significasse “despejados”.

- Pensemos filosoficamente - dizia o irmão de Clementina. - As raparigas que venham com a condição de cá não pôr o pé a mãe.

Comunicaram ao abade a modificação.

- Não, senhor - retorquiu o padre. - Onde as filhas estiverem há de ir a mãe.

- Pensemos filosoficamente - disseram entre si os Pimenteis. - A mãe poderá vir alguma vez; mas o abade nunca.

- Não, senhor. - insistiu o abade. - Eu hei de ir com as minhas filhas, porque lhes quero muito, e decerto dava sessenta mil cruzados com a obrigação de as não mais.

Não cabia tanta ignomínia no bojo de uma família que procedia de D. Ordonho I, rei das Astúrias. Debateu-se, ainda assim, três semanas o escândalo. Venceu a filosofia! D. Ordonho I deu com o capacete na pedra sepulcral, querendo exumar-se para esfolar os netos quando ouviu dizer:

- Pois deixemos vir o abade. Pensemos filosoficamente.

<< Página Anterior

pág. 2 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 2

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177