Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO

Página 3
A desonra que recebemos há quinze anos é coisa em que ninguém já fala. Tudo esquece. Foi uma desgraça; todas as famílias têm destas nódoas. Já agora, sejamos filósofos como toda a gente.

O abade ouviu a mensagem, e disse:

- Agora, sim; mas é preciso que mas venham pedir, para depois se negociarem as dispensas.

Era muito! O apurar tanto o aviltamento dos futuros maridos das suas filhas denuncia mau carácter, índole retrincada, que seria a desonra de um faquir, quanto mais de um abade cristão, e, sobre cristão, católico, e, sobre católico, pai! A baixeza dos Pimenteis não se explica bastantemente com a filosofia. Causas mais vulgares os determinaram a entrar prazenteiros e submissos na casa que os seus pais e tios tinham, dezassete anos antes, espingardeado. Digamos primeiro a mais poética: Eugénia e Ricardina eram belas. Agora a outra que não tinha vislumbres de poesia: os rendimentos da casa dos Pimenteis não bastavam à quitação anual dos juros a vários santos usurários que exercitavam a onzena mediante os seus procuradores chamados “confrarias”.

Em nome de S. Martinho e das almas santas e da Senhora do Rosário, eram eles citados a miúdo para pagarem os débitos à corte celeste. Se o feito corresse na comarca dos credores, seria de esperar que os santos cordatos fossem à mão dos litigantes, admoestando-os a usarem generosamente com os devedores; mas na comarca de Viseu as sentenças saíam todas contra os Pimenteis, e já sucedia penhorarem-lhes os frutos pendentes em nome das almas ou do Senhor S. Joaquim.

Ainda depois de beatificados por méritos de martírio, há santos que continuam a ser neste mundo flagelados no seu crédito. S. Martinho, por exemplo, dava aos nus metade da sua capa; agora acontece que a confraria que lhe zela os cofres cá em baixo, dá a logro o dinheiro dele, e tira a capa a quem lhe não paga o juro.

<< Página Anterior

pág. 3 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 3

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177