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Capítulo 4: CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ

Página 23
E não lhe respondeu senão assim a tão amorosa quanto assustada menina - assustada mais do seu alvoroço que dos pavores do pai.

Abastou à felicidade de Bernardo Moniz que a sua primeira carta recebesse a divinização de uns olhos indulgentes. Escreveu segunda. E, quando já eram seis, e escassamente expressara muito da flor de alma o que não podia desentranhar-lhe do íntimo, foi para Coimbra seguir o 4º ano. Delongue-se o menos que ser possa uma intermitência enfadosa nesta narrativa. Duas linhas sobre política.

Em 1827 referviam as paixões de escravos voluntários contra a ansiedade irreprimível dos devotos da liberdade. Recendia no ar de Portugal o acre do sangue de Gomes Freire de Andrade. O guião dos temerários agressores da tirania estúpida ondeava nas fortalezas. A vitória incruenta enganava os mais previstos. Conjuravam mais as forças inteligentes a arquitetar o edifício constitucional, quando lhes cumpria contraminar as insídias da espanhola e do filho, que parecia ter sido aleitado nos úberes da hiena materna.

Os académicos, mais de quinhentos, tinham ajudado a rebater os ímpetos do marquês de Chaves. Venceram. Todavia, restaurada a regência e a Constituição, atentaram para longe, e viram atroados de tempestades os horizontes. Coligaram-se e conjuraram. Juramentaram-se e ofereceram vida e honra em penhor da execução indeclinável dos seus compromissos. Puseram ao alcance do punhal e da bala os esbirros abjetos e os déspotas coroados. Todos a um tempo gravaram na cara do cobarde ou do apóstata o ferrete da execração, sem cedência da vida.

Neste congresso de duzentos conjurados alistou-se Bernardo Moniz; porque o verbo do cenáculo era sublime; dizia IGUALDADE; igualdade de direitos, de deveres, de origem, de procedência diversa ou casual; igualdade em suma de corações igualdade entre o filho do lavrador e a filha do abade fidalgo.

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 23

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177