E não lhe respondeu senão assim a tão amorosa quanto assustada menina - assustada mais do seu alvoroço que dos pavores do pai.
Abastou à felicidade de Bernardo Moniz que a sua primeira carta recebesse a divinização de uns olhos indulgentes. Escreveu segunda. E, quando já eram seis, e escassamente expressara muito da flor de alma o que não podia desentranhar-lhe do íntimo, foi para Coimbra seguir o 4º ano. Delongue-se o menos que ser possa uma intermitência enfadosa nesta narrativa. Duas linhas sobre política.
Em 1827 referviam as paixões de escravos voluntários contra a ansiedade irreprimível dos devotos da liberdade. Recendia no ar de Portugal o acre do sangue de Gomes Freire de Andrade. O guião dos temerários agressores da tirania estúpida ondeava nas fortalezas. A vitória incruenta enganava os mais previstos. Conjuravam mais as forças inteligentes a arquitetar o edifício constitucional, quando lhes cumpria contraminar as insídias da espanhola e do filho, que parecia ter sido aleitado nos úberes da hiena materna.
Os académicos, mais de quinhentos, tinham ajudado a rebater os ímpetos do marquês de Chaves. Venceram. Todavia, restaurada a regência e a Constituição, atentaram para longe, e viram atroados de tempestades os horizontes. Coligaram-se e conjuraram. Juramentaram-se e ofereceram vida e honra em penhor da execução indeclinável dos seus compromissos. Puseram ao alcance do punhal e da bala os esbirros abjetos e os déspotas coroados. Todos a um tempo gravaram na cara do cobarde ou do apóstata o ferrete da execração, sem cedência da vida.
Neste congresso de duzentos conjurados alistou-se Bernardo Moniz; porque o verbo do cenáculo era sublime; dizia IGUALDADE; igualdade de direitos, de deveres, de origem, de procedência diversa ou casual; igualdade em suma de corações igualdade entre o filho do lavrador e a filha do abade fidalgo.