Padre Leonardo saltou de entre as cortinas adamascadas do leito, e foi ler a carta à luz da lamparina. A informação resumida contava que D. Clementina Pimentel, meia hora depois que se apeou na casa do informador, lhe pedira que mandasse alguém acompanhá-la ao paço do bispo, com quem precisava falar urgentemente. “Foi meu filho acompanhá-la”, continuava o relator, “e depois me contou que D. Clementina conseguira que uni fâmulo a conduzisse à presença do prelado, onde ela se demorou por espaço de cinco quartos de hora, a sós coar o bispo. Voltou a senhora, e fechou-se no quarto da filha, sem querer assistir à ceia, nem tão-pouco a menina se afastou da mãe. Por mais diligências que fizeram tuas primas, tudo se frustrou. Não houve trazê-las ao chá, nem obrigá-las com extremos de delicadeza a receber a ceia no seu aposento. Hoje às onze horas foi a entrada no mosteiro. D. Clementina entrou no pátio interior com a filha e apresentou à prioresa uma licença do bispo em que lhe é concedida a residência de secular no mosteiro enquanto for sua vontade residir conventualmente. Quantos presenciámos o lance ficámos assombrados, e igualmente comovidos vendo mãe e filha abraçadas e chorosas, ao mesmo passo que D. Clementina, voltada para uma cruz, exclamava: "Graças meu Deus, que ouvistes a minha súplica! Agora, defendei-me, Senhor!".
“Fechou-se a porta do mosteiro, e eu fui de ali ao paço. Ouviu-me o bispo serenamente, e perguntou-me que eu queria afinal. Disse-lhe que D. Clementina... aqui me interrompeu de chofre o prelado com estas palavras: "D. Clementina Pimentel procedeu cristãmente. O que hoje fez já o devia ter feito. Permita Deus que ela persevere e morra na graça de Jesus Cristo, da qual tão desviada tem vivido na companhia do seu cúmplice, sobre quem pesa tremenda responsabilidade.