Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE

Página 46
Com isto, a consciência dos Pimenteis, no artigo pundonor, desobstruiu-se de travancos impertinentes. Quase que dispensavam a filosofia!

Correram as coisas mirificamente e a bel-prazer de sogro e genro até fins de Novembro. Um dia, porém, Luís Pimentel estomagou-se contra Frazão e Torto, criados de predileção do abade, à conta de eles acobertarem os machos do sogro com os xairéis dos seus cavalos. Os eguariços abespinharam-se fiados no arrimo do patrão. Luís remeteu contra eles armado de estadulho; os agredidos, porém, defenderam-se com idêntica arma, buscando ocasião de o esquadrilhar com alguma lombada. Aquietou a desordem Norberto, que era temido dos seus companheiros. Pimentel queixou-se ao abade, exigindo que os petulantes fossem despedidos. Quis o padre amaciar o genro, obrigando os seus fiéis criados a darem-lhe satisfação. Luís desprezou tal desforço, como indigno de si, e sobresteve na exigência da saída dos criados. Contraveio o padre amontoando razões que lhe atavam os pulsos, fundadas todas em gratidão aos bons serviços de vinte anos. Redarguiu o genro que, em tal caso, sairia ele com a sua mulher. O abade encolheu os ombros e esbugalhou os olhos, como quem diz: “faça o que quiser”. Consultou Luís a esposa:

- Vamos daqui embora, Eugénia?

- Morta por isso estou eu - acudiu a senhora, que idolatrava seu marido.

- O pior é...

- O quê?.

- O dinheiro...

- A quem há de ele deixá-lo? A mana Ricardina vai ser freira. Quem pode herdar senão nós?

- Dizes bem.

- Vamos - insistiu ela - , que esta canalha dos criados é insuportável. O pai é tão fidalgo numas coisas e tão plebeu em outras!... Não o entendo.

- E se ele nos for procurar, terás saudades?

- Eu!... Ora!... O que eu quero é ter-te ao pé de mim, filho.

<< Página Anterior

pág. 46 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 46

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177