Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE

Página 47
Tenho mais medo que amizade ao meu pai. Quando me lembro o que a minha mãe padeceu, dá-me vontade de chorar!

- Está decidido - fechou Luís Pimentel.

E, buscando animosamente o sogro, disse-lhe:

- Tio Queirós (desde o descobrimento da duodécima avó, chamava-lhe tio), visto que não despede os criados, permita-me dizer-lhe que mudamos de casa. A nossa, na Reboliça, está sempre às ordens de vossa Senhoria.

- Obrigado. Façam o que quiserem. Viverei sozinho. Tenho sobrinhos em Amarante; mandá-los-ei chamar para aqui. Ainda posso dotar guapamente dois.

- Um Pimentel não se assusta com tais ameaças, tio Queirós... - redarguiu o genro.

- Então um Pimentel que é?

- É um homem brioso que não vende a sua dignidade por trinta ou cem mil cruzados.

- Ora, adeus! Um Pimentel... sabe o senhor o que é um Pimentel? Quer que eu lho diga?

- Ouvirei.

- Um Pimentel... é um asno. Acredite isto que lho digo eu... Em suma, faça o que quiser e mais a sua esposa.

- Felizmente - retorquiu Luís - que o amor da minha mulher quebra as pontas desses dardos que vossa senhoria despede contra o marido dela. Eu não sou tão asno que o não conheça ao senhor.

- Está bom; não me turve o juízo... vá com Deus, Sr. Luís, e deixe-me... Vá, e pergunte ao seu pai quem eu sou.

Alusão pungentíssima, se o broquel da filosofia a não rebatesse. Na mesma hora, aparelharam-se os cavalos. Eugénia saiu, sem despedir-se do pai. Era medo ou ódio? Ambas as coisas talvez, porque o marido lhe reproduzira o diálogo e a petulante injúria do sogro. Por maneira que está sozinho o padre Leonardo! Tem que ver o esforço com que ele quer esmagar na alma o pesar de ver-se desprendido de todos os afetos que alguma hora lhe foram caros. Os relâmpagos da saudade queimam-no.

<< Página Anterior

pág. 47 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 47

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177