Casos destes enchem a gente de fé.
E, por causa de tais juros, a fazenda dos Pimenteis ia deperecendo a olho, e as herdeiras ricas a fugirem dos descendentes dos Ordonhos, dos Mauregatos e outros príncipes, constantes do in-fólio donde Clementina havia sido cancelada.
Vencidas pois as repugnâncias do sangue e dos brios, Luís e Carlos Pimentel foram à residência de Espinho, beijaram a mão da sua tia, que os recebeu enternecida, cortejaram o abade menos amável que criminoso, e pediram suas primas.
Foram chamadas Eugénia e Ricardina. Luís pedia a primeira, que era morena, olhos negros e vivos, alta e nervosa, altiva e risonha. Carlos pedia a segunda, que era alva, olhos sonhadores e estáticos, compleição linfática, estatura mediana, ar melancólico e pudico, um certo quebranto que a poetas daria mais inspirações que a outra.
Era a primeira vez que viam os seus primos tanto ao pé; nunca lhes tinham falado, nem suspeitado os projetos do seu pai. O abade proibira à mãe o mínimo boquejar sobre os seus intentos. “Não quero”, dizia ele, “que as raparigas, se o meu propósito falhar, fiquem descontentes, e se lastimem da sua má fortuna; que não vão elas depois remover os tropeços pela sua conta.”
Interrogadas pelo seu pai na presença dos pretendentes, espantaram-se; mas o espanto operava diversamente nas duas meninas. Eugénia espelhava nos olhos o júbilo interior: Luís era um galante jovem. Ricardina, porém, deu-se a ver nos olhos alguma coisa do que lhe ia na alma, era a resolução das lágrimas. Os lábios da mais velha entreabriram-se, quanto o pudor permitiu, e disseram:
- Faço a vontade ao meu pai.
- E a tua? - perguntou o abade.
- Também.
- Que respondes, tu, Ricardina? - interrogou o padre Leonardo.
- Se o pai deixar.