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Capítulo 9: CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM!

Página 57
Estrondeou grande e confusa grita no mosteiro. Espreitaram-se os recantos todos da cerca. O espanto não dava lugar a nenhum outro sentimento. Ia-se já virando do avesso o bom nome da noviça no espírito da comunidade. Até certo ponto era natural a mudança. As freiras ecléticas, quer dizer, as que tinham um poucachinho de crítica e filosofia para entenderem que o bem e o mal estão ouro fio na condição humana, diziam que Ricardina era filha do abade de Espinho, e herdara o pecado da mãe, esperando talvez a idade própria de lhe herdar a contrição. As místicas propendiam a crer que andava influência demoníaca naquele sucesso, bem como em outros mais feios de que a memória lhes não era esquiva.

Como quer que fosse, a indignação monástica recresceu, e logo naquela mesma noite se enviou aviso ao prelado, ao corregedor e ao juiz de fora. Todos os avisados dormiram a trancos, até que no dia seguinte se começaram a mexer as justiças seculares e eclesiásticas, mandando devassar no convento e vizinhança. A devassa tirou a limpo que, por volta de onze horas da noite, um barco atracado em frente da Régua recebera duas pessoas e derivara rio abaixo, a quatro remos. O corregedor avisou os parentes da noviça, e estes fizeram um próprio ao abade, como a pessoa idónea para rastrear a peugada dos fugitivos.

Quando o próprio chegou a Espinho, estavam Bernardo e Ricardina em Vila Nova de Gaia, esperando transporte - o rápido transporte da caleça - para Coimbra. Ao fim do segundo dia de viagem, apeavam nos Fornos, e entravam cavalgando jumentos, por veredas mal trilhadas entre matas de pinheiros, caminhando a sul, para onde os guiava o académico irmão da religiosa, desde que apearam da caleça. Ricardina entrou na casa triste à margem do Mondego. Bernardo ajoelhou-se aos pés dela, que se assentara quebrantada num canapé.

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pág. 57 (Capítulo 9)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 57

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177