Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM!

Página 56
O teu primo Gaspar é a bondade em pessoa, e jura-me que nunca hás de arrepender-te de ser sua esposa”, etc.

A fuga estava delineada. Encarregara-se a freira do traçado por ter recolhido as tradições de deserções, mais ou menos antigas, daquele colmeal de virgens cansadas de fabricar mel para os anjos. De Ricardina todas as religiosas formavam conceito sem laivo de desconfiança. Deixavam-na as superioras deter-se na cerca até noite, suavizando-lhe as asperezas claustrais, já pelo afeto que lhe tinham, já por devoção com a memória da mãe, e não menos pelo empenho de verem o seu hábito franciscano vestido em menina tão luzidamente aparentada.

A cerca tinha uma porta da serventia do hortelão e outra dos carros. A evasiva era fácil por ali, à hora em que o pomareiro, ocupado no seu lavor, deixava descuidadosamente a chave na porta do seu uso. Prevenido do dia e hora, Bernardo Moniz transferiu-se de noite, de S. Sebastião de Arneirós para Lamego, onde o condiscípulo preparara a resguardada hospedagem. Grande parte da manhã do dia aprazado, passou-a Ricardina ajoelhada na claustra à beira da campa da mãe. Lá se ajoelharam de par com ela as mais reformadas franciscanas, aguardando entreaberta de a consolarem. Assistiu ao refeitório sem tocar na sua ração; ouviu ler as piedosas admoestações no púlpito, concernentes às delícias da virgindade e da magnificência com que o divino esposo esperava no paraíso celestial as suas esposas.

Às quatro horas abraçou a sua amiga, cujas lágrimas borbulhavam dignas da saudade da outra. O frio era glacial; mas Ricardina, com o rosto e o coração em fogo, se tiritava, era de medo. Anoiteceu. A demora da noviça impressionou a prelada, unicamente receosa de algum acidente. Mandou as criadas acerca, a tempo que o hortelão vinha perguntando se faltava alguém, porque encontrara, ao sair, a porta aberta.

<< Página Anterior

pág. 56 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 56

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177