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Capítulo 10: CAPÍTULO X - A SORTE

Página 63

- Oh meu Deus! Isto é impossível! - exclamou Bernardo caindo sobre os joelhos. - Valei-me, meus irmãos, que eu não posso ir... eu não tenho coração onde entre o pensamento de matar um homem...

O médico levantou-o, achegou-o do peito, e disse-lhe:

- Há um remédio.

- Qual?

- Foge... foge com ela.

- Fugir...! - acudiu Bernardo espavorido do alvitre.

- Sim, fugir; porque bem sabes os artigos dos estatutos dos “Divódis”; colaboraste neles. Lá diz que o sorteado para o efeito de máximo perigo, se se recusar, será morto e execrada a sua memória. Isto são palavras; mas há aí homens capacíssimos de executá-las à letra. Podes tu com a execração? Foge com a vida. Nós te defenderemos; nós te desculparemos; mas foge, e quanto antes, porque hoje são 16, e a deputação parte no dia 18. Foge para Espanha. Onde quer que estiveres, lá irá ter o teu património. Passados anos, a tal execração estará esquecida, e tu talvez louvado pela tua prudência. Foge, Bernardo...

- Não! - bradou energicamente o sorteado com as faces já demudadas da lividez em que lhas alvejara o refluxo do sangue ao coração. - Não fujo! A palavra “execração” soa-me pior que “morrer”. Lembraste bem: fui um dos colaboradores dos estatutos: não redigi esse artigo; mas aprovei-o. É necessário que eu vá!

Deteve-se por momentos silencioso e arquejante; em seguida saltaram-lhe dos olhos as lágrimas em torrentes, e os soluços pareciam um arrancar fulminante da vida. Os irmãos diziam-lhe palavras consoladoras.

- Deixai-me chorar! - exclamou ele. - Isto não é cobardia... é ela que me está apertando e matando o coração... a minha pobre Ricardina.

- De maneira que - interrompeu o médico sinceramente maravilhado - tu choras a perda de Ricardina como se o condenado a morrer fosses tu!

Bernardo olhou para o irmão e pensou para si que o médico, dizendo uma coisa trivial, parecia inspirado.

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pág. 63 (Capítulo 10)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177