Lá vou expiar a leviandade de me intrometer na política, já quando tinha toda a minha inteligência e afetos empregados no santo amor daquele anjo! Prevariquei levado pelas torrentes. Agora, serei assassino, visto que a dignidade e bravura dos nossos irmãos políticos se quer assim recomendar à posteridade. Deixo-me ir acorrentado para uma infâmia que nunca nos será perdoada, ainda mesmo que as nossas cabeças passadas do cadafalso a um espeque fiquem pedindo caridade e misericórdia aos juízos dos vindouros.
- Que estás aí fabulando cadafalsos! - interrompeu o médico.
- É que eu insisto na pior das hipóteses. Os cadafalsos vêm aí...
- Vêm?
- Pois vocês não ouvem já o ranger das rodas que tecem as cordas de esparto? Vão às masmorras, se querem ver os carrascos já arremangados, para subirem ao tablado. Isto é coisa clara. Os cadafalsos vêm. E se eles não servirem para os assassinos políticos, onde estão vítimas mais beneméritas? O feito que vamos praticar será dos reservados no livro V para castigo de outro mundo?
- Mas que doidos serão vocês, treze homens, se se entregarem aos quadrilheiros!... - redarguiu Francisco Moniz.
- Tens razão - sorriu Bernardo - , treze homens não se deixam assim agarrar, quando a Providência não vai atrás deles.
- Dizes bem - interveio o teólogo - , dizes bem. Bernardo... Se a Providência Divina não for atrás deles.