- Salva-a, se puderes... - disse o médico ao irmão, e saiu.
Foi à Ponte, coberta de académicos e povo. Contrafez-se, quando um amigo lhe disse: “Cuidado, que te denuncias!”
Perguntava serenamente se já viera notícia dos nomes dos presos, e quantos eram. Cinco, todos sabiam; mas ninguém dava a certeza dos nomes.
Ao meio-dia, entraram os presos por entre as turbas que voz em grita levantava “vivas” a D. Miguel I. Francisco Moniz examinou o trajo dos cinco presos, que traziam as caras ainda cobertas, excetuando coiceiro, que entrou sem o lenço, sorrindo aos conhecidos, e zombando sarcasticamente dos insultadores.
Respirou o médico. Nenhum dos quatro vestia como seu irmão. Correu a casa, encontrou Ricardina de joelhos, ao lado do teólogo, que também orava. Abraçou-os ambos, e clamou sofreando o júbilo:
- Não é nenhum dos cinco... Salvou-se...
- Salvar-se-ia?! - perguntou o irmão desconfiado. - Não será ainda preso, ou denunciado pelos cúmplices?
- Bem fundado receio! - obtemperou Francisco Moniz. - Que resolves tu?
- Que fujamos.
- Será bastante para nos denunciarmos.
- E pensas que nos salva o ficar? Crês que Bernardo volte a Coimbra? Nunca mais. Se pôde fugir, procuremo-lo na nossa casa. Que nos disse ele? Lembras-te? Que levássemos esta senhora a casa do nosso pai.
Ricardina seguia com um vivo movimento de olhos o diálogo dos dois; mas o restante da fisionomia parecia marasmado. O médico atentava nela suspeitoso de maus sintomas. Incitou-a com perguntas; mas nem sequer respondia soluçando. No entanto, o pulso batia aceleradíssimo, e as faces conservavam a compostura não indiciativa da demência, chamada espasmódica. Levaram-na ao quarto de Bernardo.
Neste comenos, voltou um académico vizinho com a notícia de terem sido presos quatro estudantes no Rabaçal, dois na Ega e um em Pereira .