- Agora, guiai os meus passos, minha santa mãe! - disse entre si levantando ao céu os olhos orvalhados de doces lágrimas.
Meditou sobre o caminho de casa mais desempeçado de perigos. Era-lhe já aprazível a vida e a segurança. Temia-se de encontrar povo, que o suspeitasse, e perseguisse. Confiava muito no cavalo, mas receava-se das balas. Aventurou-se com o espírito confiado e enlevado na santa alma da sua mãe. Como a desgraça, a um tempo, escurenta e ilumina este confuso caos da razão! Internou-se num caminho travesso que, ao fim da tarde, o conduziu a Santo António de Cântaro, nove léguas distante de Viseu.
Ao outro dia, por noite, chegou a casa, ladeando as montanhas vizinhas para não passar na estrada próxima da residência abacial. Ouviram os de dentro o tropel de cavalo. Correram Ricardina, os irmãos e o velho ao pátio. O teólogo lançou-se-lhe aos braços, exclamando:
- Perdido?
- Não, salvo.
- Onde está?
- Não sei. Está salvo. Sei tudo quanto queria.
Ricardina, que ouvira o rápido diálogo, lançou-se entre os irmãos, perguntando:
- Ele não veio?
- Há de vir, talvez hoje, talvez amanhã. Está vivo, minha senhora! E estar vivo é tudo.