Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO

Página 81

- Sejamos cordatos - volveu António Maria - . Parece-me acertado que não nos deixemos matar, ou pescar, que importa o mesmo, se não é pior. Sair daqui é temeridade; passar para acolá é prudência, porque ali reflui menos água, e poderemos esperar algum tempo a ver se o inimigo retrocede.

- Pois vamos para além - concordaram, atravessando de mãos dadas até se acocorarem cosidos com o pilar em frente.

O padre, passada meia hora de silêncio nos caminhos e montes, pediu que o deixassem espiar de um alto por entre os rochedos.

- Vai - disse António Maria - , mas não faças como a pomba da arca. Em vez de ramo de oliveira, traz algum fruto destas árvores paradisíacas.

- Bolotas, por exemplo?

- Boletas, é mais português. Ceva-te, e conduz as que te sobram.

Volveu o futuro comandante do corpo legionário da Junta suprema. dizendo que não vira fôlego vivo.

- Nem morto? - perguntou António Maria. - Convencidos de que somos anfíbios, convinha saber se também somos carnívoros. Qual de vocês não comia agora um boi?

- Eu por mim - disse Bernardo - não tenho sombra de apetite. O homem é uma rija monstruosidade, não te parece?

- Rija e abominável... - acrescentou o alentejano. - Esta força que nos permite encarar sem lágrimas a nossa situação, que é? Impassibilidade de tigre que estende as garras sobre o cadáver da presa e encara destemido o caçador que lhe faz a pontaria às espáduas. Nenhum de nós se lembrou ainda que está desgraçado e perdido para sempre?

- Todos se lembrariam... - murmurou Bernardo.

- A perdição relativa - emendou o padre.

- Que é a perdição relativa? - perguntou Carneiro.

- É a comparada ao aproveitamento que se perdeu. Eu não acho abominável a valentia da alma, que sobreveio à fraqueza de um vil feito.

<< Página Anterior

pág. 81 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 81

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177