Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO

Página 82
Quando a tristeza me cravar as unhas, hei de sacudi-la. Tenho ao meu favor que o remorso de assassino me não há de entrar no peito com ela.

- Mas a honra, a pátria, a família?... Que coisas são estas, padre? Poderemos jamais restaurá-las?

- Não sei. Conservemos a vida.

- Boa palavra! - disse António Maria. - Segue-se portanto deliberarmos acerca do nosso destino. Para onde vais tu, Bernardo?

- Para minha casa, e de lá não sei para onde.

- E tu, padre?

- Para onde os fados me levarem.

- César era mais cristão, que disse Deus e não fados. Quo Deus impulerit. E tu? - perguntou ao inominado.

- Que sei eu! Não tenho mãe, nem pai, nem irmãos Leva-me contigo.

- Eu vou para o Alentejo, e de lá para Espanha. Mas é forçoso que sigamos daqui avante separados. A união pode perder-nos. Quem quiser juntar-se comigo, e quinhoar do meu pão, espere-me ou espere na raia de Espanha.

Ao cair da tarde, abraçaram-se e deram o último adeus com os olhos enxutos. Três léguas arredadas do ponto em que se afastaram pensou Bernardo Moniz que teria palmilhado, quando, ao romper da manhã, se sentiu desfalecer de cansaço e extenuação. Não obstante a sua crença da rija monstruosidade do homem, pensou que a morte lhe não deixaria ver as alvoradas de mais um dia. Figurou-se-lhe uma visão que lhe dulcificava a morte. Ricardina com a cara caída para o peito, amarelida e arregoada de lágrimas já frias, ia também morrer. Os objetos mostravam-se-lhe todos à feição da sua agonia. As nuvens alvacentas, as estrelas esmaecidas, as boninas, as árvores, os fraguedos, os córregos, tudo se lhe desfazia num vórtice de cinzas, que lhe regirava em redor da cabeça aturdida. O desgraçado apertava as fontes e cerrava os olhos. Queria reabri-los para os levantar à piedade do Céu.

<< Página Anterior

pág. 82 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 82

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177