A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 108 / 524

Em muitos outros casos, longe de haver quaisquer auxílios à autofertilização, há engenhos especiais, como poderia mostrar a partir dos escritos de C. C. Sprengel e das minhas próprias observações, que efectivamente impedem que o estigma receba o pólen da sua própria flor: por exemplo, na Lobelia fulgens, há um engenho realmente belo e elaborado pelo qual cada um dos infinitamente numerosos grânulos de pólen é varrido das anteras conjuntas de cada flor, antes de o estigma dessa flor individual estar pronto para os receber; e como esta flor nunca é visitada por insectos, pelo menos no meu jardim, nunca dá semente, embora colocando o pólen de uma flor no estigma de outra tenha criado bastantes plantas jovens; ao passo que outra espécie de Lobélia, que cresce nas proximidades e é visitada por abelhas, produz sementes em abundância. Em muitíssimos outros casos, embora sem qualquer dispositivo mecânico especial para impedir que o estigma de uma flor receba o seu próprio pólen, como C. C. Sprengel mostrou e posso confirmar, ou as anteras irrompem antes de o estigma estar pronto para a fertilização, ou o estigma está pronto antes de o pólen dessa flor estar, pelo que estas plantas têm na verdade sexos distintos e têm de se cruzar habitualmente. Como estes factos são estranhos! Como é estranho que o pólen e a superfície estigmática da mesma flor, embora tão próximos, como se o objectivo fosse a autofertilização, sejam em tantos casos de uma inutilidade recíproca! Como é simples explicar estes factos com base na perspectiva de que um cruzamento ocasional com um indivíduo distinto é vantajoso e indispensável!

Se se permitir que muitas variedades de couve, rabanete, cebola e outras plantas dêem semente perto umas das outras, uma grande





Os capítulos deste livro