dar exemplos da mesma variedade produzida em condições de vida tão diferentes como é concebível; e, por outro lado, de diferentes variedades produzidas a partir das mesmas espécies, nas mesmas condições. Tais factos mostram quão indirecta deve ser a acção das condições de vida. Mais uma vez, todo o naturalista conhece inumeráveis exemplos de espécies que se mantêm puras, ou invariantes, apesar de viverem sob os climas mais opostos. Indirectamente, como já se observou, parecem desempenhar um papel importante ao afectar o sistema reprodutivo, causando assim a variabilidade; e a selecção natural acumulará então todas as variações proveitosas, por muito ligeiras, até que estejam claramente desenvolvidas e sejam apreciáveis por nós.
Efeitos do Uso e Desuso. - Pelos factos mencionados no primeiro capítulo, julgo não haver dúvida de que o uso nos nossos animais domésticos reforça e aumenta determinadas partes e que o desuso as diminui e que tais modificações são herdadas. Na liberdade do estado de natureza, não podemos ter qualquer ponto de comparação pelo qual julgar os efeitos do uso ou desuso prolongados, pois desconhecemos as formas antecessoras; mas muitos animais têm estruturas que podem ser explicadas pelos efeitos do desuso. Como observou o Professor Owen, não há maior anomalia na natureza do que uma ave que não consegue voar; no entanto, há muitas aves nesta condição. O pato-de-asas-curtas da América do Sul só consegue esvoaçar à superfície da água e tem-nas quase nas mesmas condições que o pato doméstico de Aylesbury. Como as maiores aves que se alimentam no solo raramente levantam voo excepto para escapar ao perigo, creio que a causa de diversas aves, que hoje habitam ou habitaram recentemente várias ilhas oceânicas, inabitadas por qualquer predador, quase não terem asas, foi o desuso.
