A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 147 / 524

A avestruz, de facto, habita em áreas continentais e está sujeita a perigos aos quais não pode fugir voando, mas pode defender-se dos inimigos pontapeando-os, tão bem como o faz qualquer dos quadrúpedes menores. Podemos imaginar que o progenitor primitivo da avestruz tinha hábitos semelhantes aos de uma abetarda e que, à medida que a selecção natural, em gerações sucessivas, aumentou a dimensão e peso do seu corpo, as suas pernas passaram a ser mais usadas e as asas menos, até se tornarem incapazes de voar.

Kirby comentou (e eu observei o mesmo facto) que os tarsos, ou pés, anteriores de muitos machos de escaravelhos coprófagos se soltam com muita frequência; examinou 17 espécimes da sua própria colecção e nem um tinha o menor vestígio. Nos espécimes de Onites apelles os tarsos perdem-se tão frequentemente que o insecto chegou a ser descrito como se não os tivesse. Estão presentes em outros géneros, mas numa condição rudimentar. No Ateuchus, ou escaravelho sagrado dos egípcios, estão simplesmente ausentes. Os indícios são insuficientes para nos levar a crer que as mutilações são herdadas em quaisquer circunstâncias; preferiria explicar a ausência total dos tarsos anteriores no Ateuchus, e a sua condição rudimentar noutros géneros, pelos efeitos prolongados do desuso nos seus progenitores; pois como os tarsos quase sempre se perdem em muitos escaravelhos coprófagos, têm de se perder num período incipiente da vida e, portanto, não podem ser muito usados por estes insectos.

Nalguns casos, poderíamos atribuir facilmente ao desuso modificações de estrutura que são total ou principalmente devidas à selecção natural. O Sr. Wollaston descobriu o facto notável de que 200 escaravelhos, dentre as 550 espécies que





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