A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 148 / 524

habitam a Madeira, têm asas tão imperfeitas que não conseguem voar; e dos 29 géneros endémicos, nada menos que as espécies de 23 géneros se encontram todas nesta condição! Diversos factos, nomeadamente, que em muitas partes do mundo é bastante frequente os escaravelhos serem arrastados para o mar e perecerem; que, na Madeira, os escaravelhos, como o Sr. Wollaston observou, ficam muito escondidos até que o vento se aquiete e o Sol brilhe; que a proporção de escaravelhos ápteros é maior nas vulneráveis Desertas do que na própria Madeira; e especialmente o extraordinário facto, em que tão fortemente insiste o Sr. Wollaston, da quase total ausência de certos grupos vastos de escaravelhos, que alhures são excessivamente numerosos e cujos grupos têm hábitos de vida que quase exigem o voo frequente - estas diversas considerações fizeram-me crer que a condição áptera de tantos escaravelhos da Madeira se deve seguramente à acção da selecção natural, mas combinada provavelmente com o desuso. Pois durante milhares de gerações sucessivas, cada escaravelho individual que menos voou, ou pelo ínfimo grau de perfeição no desenvolvimento das suas asas, ou por indolência habitual, terá tido a maior probabilidade de sobreviver por não ser arrastado para o mar; por outro lado, os escaravelhos com maior propensão para o voo terão sido arrastados para o mar com maior frequência, sendo assim destruídos.

Os insectos na Madeira que não se alimentam no solo e que, como os coleópteros e os lepidópteros florívoros, têm de usar frequentemente as asas para conseguir a sua subsistência, não têm de modo algum, como o Sr. Wollaston suspeita, asas reduzidas, mas até maiores. Isto é inteiramente compatível com a acção da selecção natural. Pois à chegada de um novo





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